quinta-feira, abril 30

Ensaio Fotógrafico: Claridade

2014 foi um ano meio morto de produções. Talvez, estar numa nova cidade tenha feito isso. Talvez, eu só precisasse encontrar o ponto. Ou ter o impulso necessário para encontrá-lo. Acho que a segunda opção... Enfim, fiz meu primeiro ensaio fotográfico de muito tempo (afora as fotos com o Juão Nin para o projeto Androide sem Par).

"Claridade" (e algumas outras fotos que eu fiz) vem pra suprir uma necessidade de auto-retratos e de experimentar na linguagem que eu sempre percebi nas minhas fotógrafas preferidas: delicadeza, corpo, suavidade, impacto. Acho que tenho mais um tempo nisso antes de evoluir para outra coisa.

Clique na foto para ver o ensaio completo no Flickr:



P.S: Estou lendo esse livro incrível da Amanda Palmer, "A Arte de Pedir" e tem esse trecho que parece a descrição perfeita da minha vida agora:

"Durante toda a minha vida, tive dificuldade em me sentir real.

Até pouco tempo atrás, eu não sabia como este sentimento é absolutamente universal. Por muitos anos, eu achei que era a única. Os psicólogos tem um termo para isso: síndrome do impostor. Mas, antes de conhecer esta expressão, cunhei uma: A Patrulha da Fraude.

A Patrulha da Fraude são as forças imaginárias e aterrorizantes dos adultos 'reais' que você acredita - em algum nível subconsciente - que virão bater na sua porta no meio da noite para dizer:

Estamos de olho e temos provas de que você não tem A MENOR IDEIA DO QUE ESTÁ FAZENDO. Você é acusada do crime de dar um jeitinho, culpada de só inventar merda, e na verdade você nem merece seu emprego, vamos levar tudo embora e CONTAR PRA TODO MUNDO.

(...)

Quem trabalha com arte luta diariamente contra A Patrulha da Fraude, pois nosso trabalho é em grande parte novo e escapa a categorias prontas ou convencionais. Quando se é artista, ninguem te diz como ou bate com a varinha mágica da legitimidade. É você que bate na sua própria cabeça com uma varinha que você mesmo fez. E se sente um idiota ao fazer isso.

Não existe o 'caminho certo' para se tornar um artista. Você pode achar que vai ganhar legitimidade se fizer um curso de artes, se for publicado, se for contratado por uma gravadora. Mas, tudo isso é conversa mole e só está na sua cabeça. Você é artista quando diz que é. E é um bom artista quando faz outra pessoa sentir algo profundo ou inesperado".

segunda-feira, abril 27

La Pocha Nostra

Imagem produzida em conjunto com o performer Jota Mombaça. Foto: Ramilla Souza
Conhecia o grupo de performance La Pocha Nostra meio vagamente, sem nunca ter me aprofundado muito no estudo sobre eles. Quando abriram as inscrições para a oficina que eles deram em Santos/SP, mesmo estando perto, por um motivo ou outro, acabei não me inscrevendo. Passados alguns dias de oficina, e com três grandes amigos participando, acabei recebendo um convite pra registrar as imagens que estavam sendo desenvolvidas pelos "estudantes".

Eles precisavam de uma fotógrafa performer. Alguém confiável para estar dentro do processo, respeitando os detalhes do mesmo. Aceitei de bom grado e peguei um ônibus de São Paulo para Santos para três dias que revolucionaram meu mundo.

Com Saul Garcia Lopez no meu "estúdio fotográfico"
Estar ali não só me lembrou sobre performance, sobre essa necessidade em mim, mas também me fez questionar profundamente a fotografia. Percebi o quanto ser alguém que registra e produz tantas imagens para o mundo, talvez não seja o que eu tenha interesse. Sempre busquei uma fotografia mais autoral do que de documental, mas trabalhar com isso diretamente (fora da experiência com o La Pocha) me fez, mais e mais, sentir a esquizofrenia presente na produção de uma profusão de imagens.

O trabalho que me foi proposto por Guilhermo Gomez Pena e Saul Garcia Lopez, ambos membros do La Pocha, foi de que eu criasse uma espécie de estúdio no espaço em que estava acontecendo a oficina e aconteceriam as apresentações. Dessa forma, eu montei esse espaço e os performers montaram suas "imagens". A ideia era de que uma foto seria deles e a seguinte, eu dirigiria. Uma construção conjunta deliciosa.

Deter o olhar, ver, criar. É essa a fotografia que me interessa e que eu busco.

No mais, foram três dias de muito afeto. É essa a minha lembrança dos membros do La Pocha: afeto. Um espaço para tanta experimentação e radicalidade mas, ao mesmo tempo, permeado de respeito e de um incentivo para que você estabelecesse seus limites. Porque como disse o Guilhermo, "a subjetividade é muito mais importante que a objetividade".

Saul cariño y yo
Jota Mombaça. Foto: Ramilla Souza
7 maneiras de matar uma mulher, com Guilhermo Gomez Pena e Jess Balitrônica. Foto: Ramilla Souza