terça-feira, março 6

Diários

Desde a apresentação de "Retratos" no Circuito Bode Arte, em julho do ano passado, não havia retomado ainda um processo de criação em performance. Para a apresentação na Casa da Ribeira, no próximo dia 25, estou realizando uma série de oficinas com Yuri Kotke. Para cada uma delas, um relato no diário de processo. Publico aqui alguns trechos já seguindo uma ideia ainda em germinação de arte como confissão, exposição. Tenho pensado sobre o que é possível mostrar ao público, quando tudo que se tem a falar é sobre si mesma.


"Muitas coisas ficaram nebulosas na minha cabeça. A performance existe porque isso é como um resgate. Penso na ideia de dar voz a algo que já foi. E também de voltar para mim, de certa forma. Acho que a questão está em fazer falar algo que pulsava. E que queria falar. Voltar o olhar para um corpo que cresceu, mas que é o mesmo corpo de antes"

"Me perguntei que limite estava cruzando. Penso que isso está em mim, esse limite. É só algo em mim que eu preciso olhar. Então, eu só estou convidando pessoas a fazer isso junto comigo. Eu não sei se essa é a experiência delas ou se esse trabalho diz algo sobre elas. Mas, é algo que eu gostaria de compartilhar"

"É como uma necessidade de cuidar de mim novamente"

"Olhar para a foto me remete a muita coisa. É difícil explicar o que. Também há algo que eu vou internalizando pouco a pouco. Mas, tudo ali tem sua marca. O cabelo, a posição das mãos, o olhar (que me parece tão sem medo), a boca entreaberta (de quem não tem nada a dizer porque não há nada a ser dito), toda a posição do corpo que me diz hoje: eu não sei nada e tudo parece bem; eu estou em mim mesma e posso tocar qualquer coisa"

"O movimento de cuidar de mim mesma passa naturalmente pelo toque. Segui a linha da minha coluna e pensei que eu nunca tinha feito isso. Um envolvimento de si mesma. Ou conhecer a si mesma"

"Eu vi que não era mais eu. A pessoa da foto está tão distante de mim e eu fiquei pensando que esse trabalho é só uma tentativa de retornar a quem eu era. Todo o leitmotiv está se modificando com o tempo. O que eu achava que era não vale mais. E eu vou achando outras coisas. É tudo tão nebuloso ainda. E eu estou encontrando algo"

"Quando fechei os olhos, imaginei essa casa que eu não lembro qual era. E me imaginei naquele corpo. E pensei que eu fui uma criança amada (as memórias só vêem o que querem). Andando pelo corredor sem medo, devagar. Com minhas pernas e braços pequenos"

Um comentário:

Regina disse...

Está muito interessante o seu trabalho, a busca intensa dessa verdade, com toda essa lucidez vai promover o resgate desse indivíduo, que se perde ao longo do tempo, afinal, em que espelho se perdeu a minha face? é uma pergunta que todos nós cedo ou tarde fazemos. Continue a sua busca, serão encontros gratificantes consigo mesma. Beijos. Regina