sábado, abril 14

Depoimento para Fórum do II Circuito Regional de Performance Bode Arte

"A performance pode ser uma série de gestos íntimos" (Roselee Goldberg)


A produção do Circuito Bode Arte nos solicitou um depoimento em vídeo que respondesse a seguinte pergunta: "Travessias e Cruzamentos do Corpo, Performance e Política: Como pensamos? Como performamos?". Me atendo à questão "como performamos?", primeiro escrevi um texto para chegar à ideia do vídeo. Creio que a forma como eu entendo performance ou como eu concebo a minha performance passa essencialmente por onde eu desloco o meu olhar, o que eu decido esmiuçar e desvelar, não se tratando apenas de um (re)conhecimento, mas também de uma reconstrução. O vídeo está muito ligado ao trabalho desenvolvido na minha performance "Retratos". Abaixo, vídeo e texto. Ambos foram postados no Grupo do fórum de performance, no Facebook.


Por que performance? Como eu performo?

Existe essa oportunidade no fazer artístico que é o de ter um olhar diferenciado sobre as coisas. Quando eu digo "um olhar diferenciado", não estou falando sobre uma qualidade intrínseca do artista mas, antes, de um esforço dele em deslocar a atenção do comum para algo que está, ainda, transparente. Bem na nossa frente, quase vísivel, mas transparente, fora de foco.

Quando penso em performance e, mais especificamente, no meu fazer performático, penso justamente no olhar. Creio que eu performo na medida em que posso olhar melhor, me deter, prestar atenção. Tudo é medido através da economia da atenção, para onde eu a desloco. Tenho buscado, por enquanto, olhar para mim, buscar uma espécie de reconstrução de mim mesma. Talvez, a palavra "mapeamento" (ou a cartografia das Ciências Sociais) faça mais sentido. Para mapear, procurar, é preciso antes focar. Nesse processo, se percebe as milhares de coisas que não se vem enxergando (e tantas outras continuarão assim, uma vez que a atenção não pode estar em todos os lugares ao mesmo tempo).

A reconstrução se dá não sobre algo que foi destruído, mas sobre o caminho do olhar, a partir do qual se conta uma nova história e se cria (inventa?) uma nova memória. O que eu reconstruo, na verdade, é o meu trajeto anterior e posterior. O que veio antes não é fixo, se torna novo também.

Há uma renovação do conhecimento. Um re-conhecimento, portanto. Eu me conheço desde sempre, mas nunca antes havia me procurado. E essa busca se dá não só na memória, mas no corpo, nos objetos, nas casas, nos lugares, nos outros. Lá eu me deixei e o percurso de volta não implica apenas em "saber mais sobre", ele também resulta em que eu me transforme a cada novo passo. Na próxima busca, já não serei mais a mesma e, sendo assim, o próprio foco será outro. A performance vai se dando, dessa forma, como um constante deslocamento de intenções: a busca que muda o olhar, o olhar que muda a pessoa, a pessoa que muda a busca.

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