sábado, outubro 1

Projeto "O que está aqui..." Eixo 1 - A infância e o sexo

Texto de Yuri Kotke

Durante o projeto "O que está aqui está em todo lugar, o que não está aqui está em lugar nenhum" foram desenvolvidos três eixos diferentes para se investigar a questão da sexualidade: A sexualidade infantil e o reconhecimento do corpo, eixo trabalhado por Ramilla Souza, o corpo obsceno , trangressivo e excessivo, desenvolvido por Jota Mombaça, e o fetiche cotidiano, o corpo sexuado comum e explorado como objeto, performado por Paulo Welbson.

Serão feitos 3 posts, um para cada eixo trabalhado. Nesse iremos falar da Infância e sua relação com a sexualidade na performance performada por Ramilla Souza.

Após algum tempo de laboratório para desenvolver os temas centrais das performances, estudamos os conceitos de Tema Erótico Central (Core Erotic Theme) de Jack Morin e os três reinos da experiência sexual, de David Schnarch. A exploração desses conceitos nos levou, através de algumas vivências e exercícios baseados no NeoTantra, aos núcleos a partir dos quais as ações se desenvolveriam.

sábado, setembro 3

O primeiro edital a gente nunca esquece


O Cena Aberta é um edital da Casa da Ribeira, uma instituição cultural daqui de Natal/RN. Ele abre inscrições para quatro categorias: dança, teatro, música e ideias. Quando o edital foi divulgado, eu pensei: "Por que não inscrever uma performance em ideias?" Pois bem, eu inscrevi e passei (não fui a única que teve a mesma sacada, diga-se de passagem).

Retratos: Escolha de uma Memória da Infância será apresentada em 25/03/2012, na Casa da Ribeira.

O inusitado (ou não) é que eu já tinha feito umas críticas ao edital aqui. Ao edital, mas mais a forma como as pessoas, aqui em Natal, têm medo de falar o que pensam e se queimar com as instituições culturais. Coisas da terra, que vão mudando, lentamente. 

Se nas edições anteriores eu tinha achado a seleção um tanto caretinha, nesta houve um ganho enorme em diversidade. Trabalhos de todos os tipos foram contemplados. Eu fiquei especialmente feliz, além da minha própria seleção, claro, com o fato do Coletivo ES3 e o Sandro Souza e Silva terem sido contemplados também. São trabalhos voltados para a performance e essa linguagem nunca teve muito espaço na Casa. É certo, claro, que isso também significa pouca produção e/ou pouca vontade de ganhar novos espaços por parte dos performers (outro problema da terra que, também, vai mudando lentamente).

Lista completa dos aprovados

quinta-feira, agosto 11

Retratos: Escolha de uma Memória da Infância

Foto: Rodrigo Sena
Retratos: Escolha de uma Memória da Infância começou a ser elaborada após a montagem da 2ª versão de A Sinceridade Pode Deixar Marcas Maiores. Foi quando eu passei a trabalhar com as minhas próprias fotos de infância. De alguma forma, as fotos me ajudaram a pensar no que daquela criança havia resistido em mim, como eu ainda era aquilo, sendo que meu foco continuava a ser a sexualidade. Essa performance foi outro trabalho montado durante a pesquisa do projeto O Que Está Aqui Está em Todo Lugar, o Que Não Está Aqui Está em Lugar Nenhum e foi apresentada no I Circuito Regional de Performance Bode Arte.

Foi um ponto forte de mudança na pesquisa. Com Abuse(me) e a instalação, eu estava direcionada para o limiar entre o prazer sexual e a violência, passando pela fragilidade inerente à infância. A partir de então, eu passei a trabalhar mais fortemente com a memória e com as marcas deixadas no meu corpo pela época das descobertas sexuais.

sábado, julho 30

Sincerity Can Leave Bigger Marks

Foi para esse título que o próprio Trevor Brown traduziu o nome da minha instalação e fez um comentário em seu blog. Nem preciso dizer que fiquei extremamente feliz, lisonjeada e, ligeiramente, histérica. Mentira! Eu fiquei muito histérica. Aqui

Eu costumo dizer que a internet salvou minha vida. E é verdade. Seja isso bom ou ruim, boa parte das minhas referências artísticas são de coisas que eu pude ver na rede. O que podia fazer uma garota inquieta e enfadada de morar em uma cidade pequena? Muita coisa, eu sei. Os caminhos podiam ser muitos. Mas, o meu caminho foi pesquisar coisas distantes de mim porque, em determinado momento, não havia nada por perto com o qual eu me identificasse.

E foi assim com o Trevor. Eu vi em algum lugar, procurei no Google, passei dias pesquisando, colei a imagem de uma garota amputada no mural do meu quarto e pensei que não há nada de errado com o que nós somos, seja o que for.

Mais tarde, como eu já disse aqui, as imagens viraram referência de pesquisa no "O que está aqui está em todo lugar". Porque era aquilo que traduzia exatamente o que eu sentia e queria dizer. E se ele expôs, por que eu não?

Por isso, eu digo que a internet salvou minha vida. E em parte é verdade. Eu sou uma filha legítima de uma geração em que o local não é, necessarimente, o fator preponderante na construção das referências (seja isso bom ou ruim, mais uma vez).

terça-feira, julho 26

Nessas praias a espuma é nobre, mas rara


Por Jean Sartief

Já há alguns anos, passo o mês de janeiro na praia e desde o começo do ano estava dando um tempo de tudo ao meu redor. Fora isso, me perguntava, em meio a caminhadas, o que seria novidade neste 2011 para a cidade e para mim mesmo, lembrando que ainda teremos que suportar Micarla (teremos?) por esses anos.

Claro que este questionamento traz uma ansiedade envolta entre a mesmice que às vezes inunda Natal, as tacanhas ações que surgem das indi(gestões) públicas e o despertar de alguns lançamentos de livros, exposições, blogs, sites e projetos realmente profissionais e legais que afloram durante o ano dentre muitas coisas que precisam melhorar. Mas o amadurecimento segue esse percurso, não é mesmo?

Domingo, 01 de maio, fui ao Circuito Cultural Ribeira e respirei como há tempos não fazia em Natal. Senti esse Circuito em seus vários espaços de ação como o melhor até agora e se Deus quiser, muitos hão de vir!

Entre tudo o que vivi lá, finalmente fui desperto nos meus olhos para a instalação “A sinceridade pode deixar marcas maiores”, de Ramilla Souza, que aconteceu na sede dos Atores à Deriva, com base em frases que nos aludem a desabafos, a confissões e a desejos nem sempre revelados. Ramilla apresentou um consciente/inconsciente sexual que existe baseada no trabalho de Trevor Brown, artista inglês que mora no Japão.

segunda-feira, julho 25

A Sinceridade Pode Deixar Marcas Maiores


Confissão e exposição. É o que define, para a mim, a instalação "A Sinceridade Pode Deixar Marcas Maiores". A temática é a mesma que eu escolhi como minha no "O que está aqui está em todo lugar, o que não está aqui está em lugar nenhum": infância e sexualidade, misturadas à minha história pessoal. Sempre acho que ela me expõe mais do que as próprias performances, apesar da ausência do corpo. Deve ser por causa da não-metáfora. Cada coisa escrita é algo que realmente aconteceu ou algo que realmente eu sinto e isso é pouco simbolizado por outras coisas.

Escrevi tudo num ato só, inspirada pelos Post Secrets, que sempre me emocionaram. A ideia era juntar uma imagem a uma frase confessional, com uma única temática. E foi assim que eu fui lembrando e escrevendo coisas antigas e presentes. Só frases. Para ilustrar, o trabalho de um cara que eu adoro (devidamente autorizado por ele), mas que a maior parte das pessoas acharia bastante doentil (aceitar esse aspecto doentio em mim foi algo que a performance arte me deu), o Trevor Brown.

O Trevor trabalha, basicamente, com uma mistura entre infantilidade, abuso, sensualidade e fetiches os mais variados. Gosto do trabalho dele há um tempo, mas foi só quando comecei o processo do "O que não está aqui" que me dei conta de como esses temas me afetam. A memória da infância é algo para o qual eu sempre tendo a voltar.

domingo, julho 24

Estudos sobre Fragmentos de um Discurso Amoroso I: Rapto

Roland Barthes
Gosto de pensar no apaixonamento não como na imagem do amor romântico: arrebatamento, supostamente eterno, de uma pessoa pela outra, cuja função não é nenhuma, além de cumprir certos padrões sociais. A instituição do namoro e suas regras específicas, o casamento e suas características ainda mais duras, nada disso me interessa.

Apaixonar-se, pra mim, passa pela tentativa de conhecer e querer dividir algo com alguém. "Amor é a manifestação da criação de um espaço onde algo tem a permissão de mudar" (Harry Palmer). Eu sempre carrego essa frase como uma espécie de filosofia. No meu amor, eu permito espaços e mudanças, leveza.

A questão do papel social do romance me veio quando criei o Projeto I Love You, em 2010, numa parceria com Juão Nin e Paulo Welbson. O pontapé inicial foi a intenção de lidar com alguns aspectos da minha vida amorosa, passados e ainda incompreensíveis para mim. "O enamorado é um drama", diz Barthes. "O acontecimento, ínfimo, só existe através de sua repercussão, enorme". Foi algo assim que tomou a minha vida por cerca de dois anos. Voltar a esse drama e olhá-lo de longe, explorá-lo, de uma outra forma, era esse objetivo

sexta-feira, julho 15

Todo caminho

Tenho um medo extremo, humano
de fechar os olhos
Então, dou passos pequenos
semi-adormecida
quase sincera
Temendo que alguém me toque
embaixo do vestido
nesse caminho
E, ao mesmo tempo,
desejando que







Pretendo deixar todas as palavras incompletas
para não encarar o peso
de que eu posso falar

terça-feira, julho 12

Abuse(me)

Minha primeira performance foi construída no processo do projeto "O que está aqui está em todo lugar, o que não está aqui está em lugar nenhum". Eu queria muito apresentar algo e foi na época em que estava produzindo o Circuito Cultural Baixo de Natal, no qual iria se realizar a segunda mostra de performances Bode Arte, em dezembro de 2010.

Elaborada a oito mãos, não sobrou nenhum registro. Nenhunzinho. De alguma forma, eu não lembrei de pensar nisso no dia (justo eu, a formada em jornalismo). A foto lá embaixo é de quando eu apresentei, em sala de ensaio, a partitura que usei como parte da performance.

quarta-feira, maio 18

Objeto de desejo

Por Yuri Kotke

Quando falamos de desejo, amor, erotismo e gozo, encontramos uma série de impedimentos e restrições para falar sobre isso. Sejam restrições externas (sociais, culturais, interpessoais) ou internas (autocrítica, vergonha).

Ao desenvolver um projeto que lide, essencialmente, com o erótico e o objeto de desejo, passaram pela minha cabeça várias questões, entre elas: Se havia alguém interessado nessas questões artisticamente além de mim, se era possível expressar coisas que, quando desvendadas, perdem seu encanto, se eu e aqueles que escolheram trabalhar comigo seriam capazes de aceitar a ambiguidade da linguagem artística para expressar algo que, quando transformado em discurso, se torna unilateral.

domingo, maio 15

O que está aqui está em todo lugar

Tudo começou comigo e com o Yuri, né, como quase todas as coisas. Ele tinha que fazer um projeto para a disciplina Encenação III, do famigerado Curso de Teatro do famigerado Deart/UFRN. Depois de umas viagens momentâneas com montar um autor inglês, do qual eu não me recordo agora, eu dei a sugestão: "Por que não usar sua própria pesquisa sobre sexualidade como material do projeto?". Apesar do receio (nós sabemos que Natal é uma cidade caretinha), ele acabou aderindo à ideia.


Taí o que eu ganhei com minha boca grande.
(Piada, eu tava adorando)

sexta-feira, maio 13

Há muito tempo me pergunto onde depositar minha honestidade

Este blog será, basicamente, um portifólio. Um pouco mais do que isso, ele surge da necessidade de organizar meus processos criativos. Até agora (e desde a adolescência) tudo me veio como explosões pontuais e sem direcionamento, mas eu descobri que, para vestir essa identidade de artista, é preciso pensar algo maior e mais complicado, a comunicação.

E é só pela comunicação que eu continuo. Tudo aqui é de mim para o mundo. E eu aceito qualquer coisa que retornar.